quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Um mendigo sacudiu o púcaro como uma pandeireta, chocalhando as moedas de uma maneira dramática. Um forte odor a podridão empestava-lhe o hálito quando murmurou, em tom conspirador, para a barba de Sabbath:
- É apenas um trabalho, meu. Alguém tem de o fazer.
Era uma faca. Uma faca a cravar-se no casaco de Sabbath.
- Que tipo de trabalho?
- Ser um caso limite.

Philip Roth, Teatro de Sabbath (Dom Quixote, 2000) 

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Dezembro, listas, livros que fizeram o meu 2009

Livros editados em 2009*:

01. Johann Wolfgang von Goethe,
Os sofrimentos do jovem Werther (Guimarães);

02. John Cheever,
Contos completos I (Sextante);

03. John dos Passos,
Paralelo 42 (Presença);

04. Joseph Conrad,
O coração das trevas (Dom Quixote);

05. Nathaniel Hawthorne,
A letra encarnada (Dom Quixote);

06. Cormac McCarthy,
Suttree (Relógio D’Água);

07. Edgar Allan Poe,
A narrativa de Arthur Gordon Pym de Nantucket (Assírio & Alvim);

08. John Cheever,
Parece mesmo o paraíso (Relógio D’Água);

09. Don DeLillo,
Cão em fuga (Relógio D’Água);

10. Philip Roth,
Indignação (Dom Quixote);

11. Alberto Méndez,
Os girassóis cegos (Sextante).


Outras leituras (e releituras)*:

01. Fiódor Dostoiévski,
O idiota (Presença, 2001);

02. Marcel Proust,
Em busca do tempo perdido, Volume I: Do lado de Swann (Relógio D’Água, 2003);

03. John Steinbeck,
As vinhas da ira (Livros do Brasil, 2007);

04. Thomas Mann,
A montanha mágica (Livros do Brasil, s/data);

05. Herman Melville,
Moby Dick (Relógio D’Água, 2005);

06. Lev Tolstoi,
Khadji-Murat (Cavalo de Ferro, 2005);

07. John Steinbeck,
O Inverno do nosso descontentamento (Livros do Brasil, 2006);

08. Giuseppe Tomasi di Lampedusa,
O leopardo (Teorema, 2007);

09. Henry James,
A fera na selva (Assírio & Alvim, 1986);

10. William Faulkner,
O som e a fúria (Dom Quixote, 2006);

11. Iris Murdoch,
Um homem acidental (Relógio D’Água, 2007);

12. Philip Roth,
Teatro de Sabbath (Dom Quixote, 2000);

13. Adolfo Bioy Casares,
Plano de evasão (Cavalo de Ferro, 2007);

14. Philip Roth,
Património (Dom Quixote, 2008);

15. James Joyce,
Gente de Dublin (Vega, 1985);

16. John Steinbeck,
Ratos e homens (Livros do Brasil, 2005);

17. Fiódor Dostoiévski,
Coração débil (Público, 2002);

18. Adolfo Bioy Casares,
O herói das mulheres (Cavalo de Ferro, 2008);

19. Henry James,
O desenho no tapete (Relógio D’Água, 1988);

20. John Steinbeck,
Viagens com charley (Livros do Brasil, 2002);

21. Giovanni Papini,
Palavras e sangue (Livros do Brasil, 2007);

22. Truman Capote,
Boneca de luxo (Público, 2002);

23. Cormac McCarthy,
O guarda do pomar (Relógio D’Água, 1996);

24. John Steinbeck,
Pastagens do céu (Livros do Brasil, 2008);

25. John Steinbeck,
The pearl / The red pony (Penguin, 1986**);

26. Giovanni Boccaccio,
Histórias eróticas (Quasi, 2008);

27. Vergílio Ferreira,
Uma esplanada sobre o mar (Difel, s/data);

28. Nuno Júdice,
Meditação sobre ruínas (Quetzal, 1999);

29. Stig Dagerman,
A nossa necessidade de consolo é impossível de satisfazer (Fenda, 1995);

30. José Saramago,
A viagem do elefante (Caminho, 2008);

31. John Steinbeck,
A taça de ouro (Livros do Brasil, 2007);

32. Leonard Cohen,
Belos vencidos (Relógio D’Água, 1997);

33. José Luís Peixoto,
Morreste-me (Edição de autor, 2000);

34. Ernest Hemingway,
Na outra margem entre as árvores (Livros do Brasil, 2001);

35. Mário de Sá Carneiro,
O incesto (Rolim, 1985);

36. Sophia de Mello Breyner Andresen,
Contos exemplares (Figueirinhas, 2006);

37. Mário de Carvalho,
Fantasia para dois coronéis e uma piscina (Caminho, 2003);

38. Jorge Sousa Braga,
A ferida aberta (Assírio & Alvim, 2001).

* Segundo a data de edição ou reedição em Portugal, excepto em **.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Quando voltou ao quarto, tinha tirado as rosas do papel em que vinham envolvidas e tinha-as arranjado numa jarra com água até meio.
«Onde será que as vês melhor?», perguntou-me, olhando em volta do quarto que, apesar de pequeno, sempre era maior e sem dúvida mais claro do que aquele que eu ocupava em Neil Hall. [...]
«Onde as vejo melhor», disse eu, «é nas tuas mãos. Vejo-as melhor contigo aí.»

Philip Roth, Indignação (Dom Quixote, 2009) 
A grande facilidade de escrever cartas deve ter introduzido no mundo – de um ponto de vista puramente teórico – uma terrível desordem das almas: é um comércio com fantasmas, não apenas com o fantasma do destinatário, mas também com o próprio; o fantasma cresce por debaixo da mão que escreve, na carta que ela redige, com maior razão numa série de cartas onde uma corrobora a outra e pode chamá-la a testemunhar. Como pôde nascer a ideia de que as cartas dariam aos homens um meio de comunicar? Podemos pensar num ser distante, podemos tocar num ser próximo: o resto ultrapassa a força humana. Escrever cartas é pôr-se a nu perante os fantasmas; eles esperam avidamente por esse momento. Os beijos escritos não chegam ao destino, os fantasmas bebem-nos pelo caminho. É graças a esse abundante alimento que eles se multiplicam de forma tão extraordinária. A humanidade sente-o e luta contra o perigo: tentou eliminar tanto quanto podia o elemento espectral entre os homens, tentou conseguir entre eles relações naturais, tentou restaurar a paz das almas inventando o caminho-de-ferro, o automóvel, o aeroplano. Mas isso já não serve de nada (essas invenções surgiram quando a queda já tinha sido desencadeada): o adversário é tão mais calmo, tão mais forte. Depois do correio, inventou o telégrafo, o telefone, a telegrafia sem fios. Os espectros não morrerão à fome, mas nós pereceremos.

Carta de Kafka a Milena, escrita no começo do mês de Abril de 1922. 

domingo, 6 de dezembro de 2009

Animal Collective, Merriweather post pavilion
Dezembro, listas, melhores álbuns de 2009:
01. Animal Collective,
Merriweather post pavilion (Domino);

02. Magma,
Ëmëhntëhtt-Rê (Seventh);

03. Vieux Farka Touré,
Fondo (Six Degrees);

04. Sunn O))),
Monoliths & dimensions (Southern Lord);

05. Manassas,
Pieces (Rhino/Eyewall);

06 Bill Callahan,
Sometimes I wish we were an eagle (Drag City);

07. Atlas Sound,
Logos (4AD);

08. Norberto Lobo,
Pata lenta (Mbari Música);

09. João Paulo,
White works (Universal);

10. The Dodos,
Time to die (Frenchkiss);

11. Wilco,
Wilco (Nonesuch);

12. Akron/Family,
Set 'em wilde, set 'em free (Dead Oceans);

13. The XX,
The XX (Young turks);

14. Orchestre National de Jazz,
Around Robert Wyatt (Bee Jazz);

15. Discovery,
LP (XL);

16. Carminho,
Fado (EMI);

17. A.C. Newman,
Get guilty (Broken Horse);

18. Peter Hammill,
Thin air (Fie!);

19. Lily Allen,
It's not me, it's you (Regal);

20. Dan Deacon,
Bromst (Carpark);

21. Fuck Buttons,
Tarot sport (ATP);

22. Sonic Youth,
The eternal (Matador);

23. Dinosaur Jr,
Farm (Jagjaguwar);

24. Moritz von Oswald Trio,
Vertical ascent (Honest Jon's);

25. The pains of being pure at heart,
The pains of being pure at heart (Fortuna Pop!).