Quando
estava em Pencey, morava na ala Ossenburger nos dormitórios novos. Era só para
os do penúltimo ano e para finalistas. Eu era do penúltimo ano. O meu colega de
quarto era finalista. Tinham posto àquilo o nome de Ossenburger, por causa de
um tipo que tinha andado em Pencey. Tinha feito uma data de massa no negócio
das agências funerárias depois de ter saído de Pencey. O que ele fez foi
começar por todo o país com aqueles serviços funerários em que se consegue
enterrar os membros de uma família inteira por cerca de cinco dólares a peça.
Haviam de ver o velho Ossenburger. Às tantas, o que ele fazia era enfiá-los a
todos num saco e depois atirá-los ao rio. Seja como for, doou a Pencey um monte
de massa e então eles deram o nome dele àquela ala. No primeiro jogo de futebol
do ano, apareceu no colégio na merda daquele Cadillac enorme, e nós tivemos
todos de nos levantar na bancada e dar-lhe uma «locomotiva», que é uma
aclamação. Depois, na manhã seguinte, na capela, fez um discurso que durou umas
dez horas. Arrancou com umas cinquenta piadas foleiras, só para nos mostrar o
tipo porreiro que ele era. Uma coisa que só visto. Depois desatou a contar-nos
porque é que nunca se envergonhava, quando se via metido em qualquer problema
ou assim, de ajoelhar e de rezar a Deus. Dizia que devíamos rezar sempre a Deus
– falar com Ele e tudo – onde quer que estivéssemos. Dizia que devíamos pensar
em Jesus como um compincha e tudo. E disse que ele estava sempre a falar com
Jesus. Mesmo quando ia a guiar. Aquela deu cabo de mim. Estou mesmo a ver o
armante daquele cabrão a meter a primeira e a pedir que arranjasse maneira de
mais uns quantos esticarem o pernil.
J.
D. Salinger, À espera no centeio (Difel,
2005)