sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

No início era o rock psicadélico da Swinging London, as guitarras que soavam a pianos e os pianos que soavam a guitarras. Porém, uma vez transactos os verões de 1967 e 68, o Psicadelismo mudou, cresceu, achou-se grande no seguimento de “Tomorrow never knows” e “Eight miles high”.
Era música saída das mãos e cabeças de pessoas que haviam sido expostas a influências tão díspares como o Barroco de Bach e Vivaldi, o rock instrumental dos Shadows e o experimentalismo minimal de Terry Riley. Música que se achava séria, que citava os ‘grandes mestres’ e deles aprendia lições de harmonia e forma. Música que muito beneficiava com as transformações sociais a que dava voz e onde eram testados em tempo real novos instrumentos, efeitos e técnicas de gravação.
Ainda que o conceito de aldeia global de McLuhan fosse ainda uma miragem futurista, a rádio e as viagens encurtavam já as distâncias: a cena musical popular britânica ligava-se estreitamente a outras, colhendo da soul de Detroit e de Memphis, da nova folk de Greenwich Village e dos blues do Mississípi, e dando a colher ao jazz eléctrico de Nova Iorque e à nova música popular alemã, a que mais tarde, em jeito de escárnio, se daria o nome krautrock.
Corriam ainda os primeiros anos da década de’60 e já não era incomum ver bandas inglesas em clubes alemães. Os próprios Beatles o haviam feito em 1960, tendo até Pete Best sido preterido a favor de Ringo Starr num clube em Hamburgo. Mas se o Reino Unido vivia uma vida sem sobressaltos, e num pós-Segunda Grande Guerra de onde tinha saído vencedor, a Alemanha era ainda um país em reconstrução, pelo que, numa primeira fase, também a música proveniente destes dois países divergiria devido a esta grande diferença. Assim, em traços gerais, desenvolver-se-iam no Reino Unido correntes mais lúdicas, enquanto na Alemanha, disposta que estava a fazer tabula rasa, nasceriam estéticas mais voltadas para a experimentação.
Nascidos em Berlim, corria o ano de 1967, os Tangerine Dream começariam por filiar-se no rock psicadélico, mas o apadrinhamento de Edgar Froese por Salvador Dali cedo motivou uma mudança a favor de formas mais livres que a da canção e timbres mais ricos que os fornecidos pelos instrumentos tradicionais do rock.
O resultado expressar-se-ia em álbuns importantíssimos enquanto exercícios exploratórios de novas possibilidades sonoras que, depois de resumidas pelos Kraftwerk, seriam postas a uso pelos neo-românticos e demais artistas afectos ao expediente pop da década de ’80. Álbuns que, a tempo do concerto que o grupo irá dar por cá em Maio próximo, importa resgatar do pó.

Segue-se a lista:

Tangerine Dream, Alpha Centauri
- Alpha Centauri (1971): O meu álbum favorito da primeira fase, sendo mais coeso que o álbum de estreia, Electronic meditation (1970), menos maçador que Zeit (1972) e mais ambicioso que Atem (1973);

Tangerine Dream, Phaedra
- Phaedra (1974): Álbum que inicia o período Virgin e introduz a sonoridade que a banda irá desenvolver durante o resto da década de ’70;

Tangerine Dream, Rubycon
- Rubycon (1975): Seguimento lógico e mais cuidado do álbum anterior, Phaedra. Ajudou a cimentar a mudança; foi um A day at the races para um A night at the opera, um Amnesiac para um Kid A;

Tangerine Dream, Ricochet
- Ricochet (1975): Aquele que, na minha opinião, é o grande álbum dos Tangerine Dream. Uma obra, duas faixas, gravação ao vivo. Se nos dois álbuns anteriores, Phaedra e Rubycon, os sequenciadores eram usados com algum pudor no que concerne às oscilações, arpejos e loops, aqui são levados ao seu limite. A segunda parte da peça, com o seu começo ao piano que muito lembra a simplicidade certeira de um Satie, está quase ao nível de A rainbow in curved air de Terry Riley.