Era música saída das mãos e cabeças de pessoas que haviam sido expostas a influências tão díspares como o Barroco de Bach e Vivaldi, o rock instrumental dos Shadows e o experimentalismo minimal de Terry Riley. Música que se achava séria, que citava os ‘grandes mestres’ e deles aprendia lições de harmonia e forma. Música que muito beneficiava com as transformações sociais a que dava voz e onde eram testados em tempo real novos instrumentos, efeitos e técnicas de gravação.
Ainda que o conceito de aldeia global de McLuhan fosse ainda uma miragem futurista, a rádio e as viagens encurtavam já as distâncias: a cena musical popular britânica ligava-se estreitamente a outras, colhendo da soul de Detroit e de Memphis, da nova folk de Greenwich Village e dos blues do Mississípi, e dando a colher ao jazz eléctrico de Nova Iorque e à nova música popular alemã, a que mais tarde, em jeito de escárnio, se daria o nome krautrock.
Corriam ainda os primeiros anos da década de’60 e já não era incomum ver bandas inglesas em clubes alemães. Os próprios Beatles o haviam feito em 1960, tendo até Pete Best sido preterido a favor de Ringo Starr num clube em Hamburgo. Mas se o Reino Unido vivia uma vida sem sobressaltos, e num pós-Segunda Grande Guerra de onde tinha saído vencedor, a Alemanha era ainda um país em reconstrução, pelo que, numa primeira fase, também a música proveniente destes dois países divergiria devido a esta grande diferença. Assim, em traços gerais, desenvolver-se-iam no Reino Unido correntes mais lúdicas, enquanto na Alemanha, disposta que estava a fazer tabula rasa, nasceriam estéticas mais voltadas para a experimentação.
Nascidos em Berlim, corria o ano de 1967, os Tangerine Dream começariam por filiar-se no rock psicadélico, mas o apadrinhamento de Edgar Froese por Salvador Dali cedo motivou uma mudança a favor de formas mais livres que a da canção e timbres mais ricos que os fornecidos pelos instrumentos tradicionais do rock.
O resultado expressar-se-ia em álbuns importantíssimos enquanto exercícios exploratórios de novas possibilidades sonoras que, depois de resumidas pelos Kraftwerk, seriam postas a uso pelos neo-românticos e demais artistas afectos ao expediente pop da década de ’80. Álbuns que, a tempo do concerto que o grupo irá dar por cá em Maio próximo, importa resgatar do pó.
Segue-se a lista: