segunda-feira, 18 de janeiro de 2010


Storia di alcuni minuti 3
Symfonia pieśni żałosnych: Lento e largo
The Royal Philharmonic Orchestra (Susan Gritton, soprano; Yuri Simonov, regência): Henryk Górecki, Terceira sinfonia
(Symfonia pieśni żałosnych – Sinfonia de canções tristes) (Composição: 1976)


Inicialmente influenciado pelo serialismo, Henryk Górecki apenas adquiriria um estilo próprio na década de ’70, mais concretamente aquando da escrita da sua segunda sinfonia. Nesta preteriria as complexas texturas daquela corrente pelas muito mais simples soluções do minimalismo sagrado, uma tipologia com raízes na música dos minimalistas estadounidenses Philip Glass, Steve Reich e Terry Riley, a que havia sido dado, pelo próprio e por outros compositores como Sofia Gubaidulina, Alan Hovhaness, Giya Kancheli, Hans Otte e Arvo Pärt, um carácter espiritual.
Permanecendo praticamente desconhecida até à década de ’80, a música de Górecki chegaria a um maior número de pessoas através da interpretação de algumas das suas obras pela London Sinfonietta, em 1989, e pelo Kronos Quartet, em 1990. O mainstream, porém, apenas daria por ela em 1992 graças à gravação da sua terceira sinfonia pela mesmíssima London Sinfonietta, tendo esta gravação ocupado durante algum tempo os lugares cimeiros dos topes britânico e estadounidense de música erudita, e sendo, ainda hoje, a obra que, de entre o seu catálogo, é a mais conhecida do grande público.
Terminada em Dezembro de 1976, esta sinfonia tem por base temas e textos tradicionais polacos que datam do séc. XV ao séc. XIX, e que, sem excepção, revelam as últimas palavras lidas ou escritas, ditas ou ouvidas, de uma mãe ao seu filho (1.º Andamento), de uma filha à sua mãe (2.º Andamento) e da Virgem Maria a Jesus Cristo (3.º Andamento). Apenas isto. Não existe aqui, como muitas vezes foi apontado por vários críticos, uma pretensa resposta da arte ao holocausto Nazi. Apesar do ao compositor ter sido comissionada uma obra nesse sentido quando ainda decorria a década de ’60, esta acabou por nunca se materializar. Disse Górecki (Bernard Jacobson, A polish renaissance): «Muitos dos meus familiares morreram em campos de concentração. Tive um avô que esteve em Dachau, uma tia em Auschwitz. Sabem como é entre os polacos e os alemães. Mas o Bach era alemão – e Schubert, e Strauss. As pessoas têm de nascer em algum lado. Tudo isso é passado, pelo que a terceira sinfonia não é sobre a guerra, não é um Dies Irae; é apenas uma sinfonia de canções tristes.»