Há
meses, estando eu a almoçar com uma amiga, ela comunicou-me ter doado o seu
cadáver a uma faculdade. De início, considerei o gesto insólito, mas acabei por
decidir fazer o mesmo, tendo-lhe pedido o telefone da instituição. Antes, falei
com os meus filhos, prevenindo-os, com um ar radiante, que não teriam pagar o
meu enterro, pois o doador fica liberto da despesa. Encolheram os ombros,
declarando que fizesse o que me apetecesse. Foi assim que, em Dezembro de 2009,
telefonei para a Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa,
a fim de proceder à doação cadavérica. Para meu espanto, a telefonista
informou-me que só da parte da tarde se aceitavam declarações relativas à
doação de cadáveres […].
Maria
Filomena Mónica, A morte